O Ministrio Pblico Estadual afirma que h provas de que o vereador Tiago Vargas (PSD) ameaou o mdico e ex-vereador de Campo Grande Lvio Viana Leite (PSDB), durante avaliao mdica da Ageprev (Agncia de Previdncia de Mato Grosso do Sul), em abril de 2019. O rgo pede 4 Vara Criminal da Capital a condenao do parlamentar por ameaa, coao e desacato.
Uma das alegaes de Tiago para continuar afastado de suas funes na Polcia Civil era de que estava incapacitado de sair de sua residncia, em razo de no conseguir lidar com o pblico. “Ameaando tambm que se lhe dessem uma arma de fogo ele mataria o governador”, relata o MPE, em suas alegaes finais.
O policial ento foi confrontado, durante a percia, com um vdeo em que participava de reunio do sindicato da Polcia Civil discursando “em meio a um grande pblico” com um microfone. A gravao foi mostrada pelo ento vereador Dr. Lvio, do mesmo partido do ex-governador Reinaldo Azambuja, “notoriamente grande desafeto” de Vargas.
Nesse momento, conforme depoimentos das testemunhas em juzo, Tiago se exaltou e ou a xingar e a fazer acusaes contra Lvio, chamando-o de “safado, voc no vale nada”, questionando tambm sua integridade profissional e dizendo que “isso brincadeira, voc vai ver, perdeu o foco” ao mdico, que se afastou por temer ser agredido fisicamente.
Segundo o Ministrio Pblico, Vargas dirigiu ameaas aos demais mdicos presentes, afirmando: “vocs vo ver, isso no vai ficar assim”.
“O acusado tambm tentou, por meio de ameaas graves, convencer a junta mdica de sua incapacidade, alegando que todos eram suspeitos e tinham motivaes polticas ao contestarem sua condio. Chegando ao ponto de declarar que, se lhe dessem uma arma de fogo, sairia ‘matando polticos e o governador’”, relata o MPE.
Testemunhas
As alegaes finais apresentadas pelo Ministrio Pblico Estadual tambm detalham os depoimentos das testemunhas sobre o ocorrido durante avaliao mdica da Ageprev, inclusive a do prprio Tiago Vargas.
Em seu interrogatrio judicial, o vereador alegou no se recordar do ocorrido na avaliao em abril de 2019. Ele informou que havia realizado diversas percias mdicas, sendo que naquele dia, supostamente Lvio teria sado da Cmara dos Vereadores exclusivamente para realizar o seu exame devido a perseguio poltica.
Durante o exame, cada profissional que estava presente comeou a fazer perguntas para Tiago, sendo que o ltimo mdico a perguntar foi o Dr. Livio. Ele questionou se o policial ficava em casa durante o perodo de afastamento das atividades. O policial respondeu que sim e disse que no achava que tinha de retornar ao trabalho. Foi ento que o tucano mostrou a gravao no sindicato.
O mdico Lvio Viana Leite discursa durante mandato de vereador em 2019. (Foto: Izaas Medeiros/CMCG)
Exaltado, Vargas empurrou uma mesa dizendo para Lvio “isso aqui uma percia ou se trata de questes polticas”. “No vai ficar assim, eu vou buscar os meus direitos”, prosseguiu o policial.
Tiago negou que tenha xingado ou falado que se lhe desse uma arma sairia matando polticos e o governador, negando que cometeu os crimes.
Em juzo, Livio Viana de Oliveira Leite declarou que foi chamado para realizar uma percia, em razo de que naquele dia havia faltado um perito, e comps o grupo para avaliar Tiago Vargas a pedido da Corregedoria da Polcia Civil, para Processo istrativo Disciplinar que ele estava respondendo.
No lembram de amaas a Lvio
Os demais membros da junta mdica afirmaram no se lembrar do policial civil fazer ameaas ao grupo ou ao prprio Lvio, mas sim de xingamentos como “merda, bosta, corrupto”, em meio discusso. Porm, relatam que o ru teria dito que “se mandassem ele voltar a trabalhar, ele estaria na posse de arma de fogo e a iria matar o Governador Reinaldo Azambuja e vrios outros polticos”.
“Buscando assim manipular os peritos na realizao da avaliao, sendo visvel uma mudana de comportamento repentina no momento em que se colocou em contradio, no tendo ameaado ela [psiquiatra], nem se recordando do ru ameaando a vtima, sendo que a concluso do Laudo definiu o ru apto para o exerccio da profisso”, diz o Ministrio Pblico.
Os mdicos tambm informaram que o questionamento e a apresentao de vdeo uma situao comum durante uma percia, sendo que alm disso os dias de escala so fixos.
Alm da condenao por ameaa, coao e desacato, o Ministrio Pblico Estadual pede que seja fixado valor mnimo para reparao dos danos materiais e morais vtima estipulado entre um e 360 salrios mnimos.
O processo est concluso para sentena desde a quinta-feira, 22 de fevereiro, e a deciso est nas mos da juza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4 Vara Criminal de Campo Grande.
Por causa da demisso da Polcia Civil causada pela ameaa, Tiago Vargas perdeu os direitos polticos e teve o mandato de deputado estadual cassado aps conquistar mais de 18 mil votos. Neste ano, ele precisa reverter a deciso para disputar a reeleio. Em 2020, o ex-policial foi o vereador mais votado na Capital.
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